Durante muito tempo as emoções foram o “patinho feio” das capacidades humanas (mesmo dentro da psicologia). Se tem filhos, amigos com filhos ou se tem uma boa memória da sua infância, com certeza que já ouviu expressões como “pára de chorar”, “não tens razão para estar triste”, “bem feita, para a próxima…”, “cala-te ou eu é que te dou uma razão para chorares!”, “meninas bonitas não fazem birras” ou “homens não choram”. A maior parte das vezes, dizer algo assim para uma criança a chorar, vai fazer com que ela contenha as suas lágrimas, cerre os dentes, engula em seco e instintivamente aprenda que as emoções negativas como o medo, a raiva e a tristeza são coisas más que devem ser evitadas.
Nada disto é invulgar, a expressão emocional tende a deixar-nos desconfortáveis. Quando uma emoção negativa aparece, a nossa tendência é tentar anulá-la de uma forma ou doutra. Se dermos uma vista de olhos aos comerciais que vemos na TV, recebemos a mesma mensagem: vemos um dia cinzento e aborrecido e depois a pessoa do anúncio abre aquela garrafa de cerveja e de repente o mundo transforma-se…
Mas se as emoções negativas são de facto tão desconfortáveis e tão indesejadas, porque é que será que as temos?
De facto, as nossas emoções não surgiram do nada, elas foram sendo modificadas connosco durante a evolução da nossa espécie. Se nós temos emoções agora, é porque elas foram essenciais para sobrevivermos e lidarmos com os desafios do mundo. Por isso, no seio do nosso medo, da nossa tristeza, da nossa raiva, da nossa inveja, da nossa alegria, do nosso ciúme, do nosso amor, estão milhões de anos de sabedoria.
Se sentimos medo, então é porque está algo perigoso à nossa frente. Se sentimos ansiedade é porque está um desafio num futuro próximo. Se sentimos tristeza, então acabamos de experienciar uma perda e precisamos de parar uns momentos e definir como vai ser a nossa vida sem aquilo ou a pessoa que perdemos.
As nossas emoções são basicamente um sistema de alarme, um alarme que diz que algo na vida não está bem e que necessitamos de fazer algo diferente. Afinal, se estivéssemos em frente a um leão e não sentíssemos medo, seríamos comida.
Assim, as emoções não são para ignorar e empurrar para dentro, devemos tentar ouvir o que elas nos querem dizer e, depois de ter toda a informação, escolher como agir da forma que nos traz mais benefício e vitalidade.
É precisamente trabalho como este que se faz em psicologia, não é tanto sobre ficarmos a sentir-nos melhor, mas sim ficarmos melhor a sentir.